domingo, 30 de março de 2014

DOR DILACERANTE




DOR DILACERANTE
Ysolda Cabral

Num calor infernal sufocante,
a tarde cai incompreensivelmente fria.
O silêncio traz intrínseca a agonia,
e a dor da saudade se torna dilacerante.

Saudade hoje é companheira na lira,
da minha infinita solidão.
Ah, quantas emoções conflitantes,
residem no meu coração!...

Esqueci de mim, sem temer.
Quanto tempo precioso perdido,
que passou por mim tão corrido!
Relutei, mas cansei de nada ser.

Hoje que a tarde cai indolente,
Nada mais sonho, desejo ou pretendo,
a não ser entender a incógnita de estar vivendo,
uma vida onde a tristeza é  remetente.

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Praia de Candeias-PE
Em tarde domingueira
30.03.2014
Publicado no Recanto das Letras 
 em 30/03/2014
Código do texto: T4749812 
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CADÊ A COCADA DE COCO?


 
CADÊ O COCO DA COCADA DE COCO?
Ysolda Cabral

Se não fosse pelo trabalho, as idas ao supermercado e das caminhadas à beira Mar, eu teria uma vida quase que totalmente reclusa. Gosto de ter uma vida assim e adoro estar a sós comigo mesma. Escutar o silêncio quando ele é perturbado pelo canto dos passarinhos, é tudo de bom! Acho lindo, acho engraçado e faço coro com eles, feliz da vida.
Também gosto de escrever bobagens nas horas vagas ou não; gosto de dedilhar meu velho violão e adorava cuidar de minha Hortelã. Ela me tirava dos pesadelos com seu perfume... Ficamos juntas por quase dez anos. A separação foi dolorosa – no novo AP ela não teria lugar. Sinto sua falta, porém sei que está bem e segura na casa de meu irmão. Não é servida de chá, nem na salada e nem, muito menos, em sucos.
Naturalmente que, por vezes, me canso da mesmice. Quando isso acontece, boto o pé no acelerador e ganho a primeira estrada que me vem à frente. Viajar sem destino, sem ter hora pra voltar, é bom demais! Já viajei de ônibus, de avião, de trem, até de barco! Conheçoboa parte do Brasil, bem como um pouco da Argentina, do Uruguai, do Paraguai, e parei por aí, pois o que me faz um bem enorme é viajar de carro e comigo ao volante.

Já viajei um bocado! Hoje, nem tanto! 
As estradas já não são mais seguras como dantes. Mesmo assim, foi não foi, arrisco-me em pequenos percursos. 
De um dos últimos trago uma doce recordação:
Estava voltando da linda praia de Peroba, situada na divisa de Pernambuco com Alagoas, quando resolvi parar e comprar algumas frutas – as frutas vendidas nos acostamentos das estradas têm sabor diferenciado, não sei a razão. Estacionei justo na barraca de um casal muito expressivo. Ela, baixinha e forte, olhos azuis bondosos, alegres e muito gentis. Ele, movimentando-se com a ajuda de moletas – só tinha uma das pernas -, não me pareceu menos feliz que a sua mulher. Gostei tanto do casal que me pus a conversar com eles e até comprei mais frutas do que queria e precisava. Quando, finalmente, resolvi ir embora, ele falou:
- A senhora não comprou nossa cocada de coco?! É uma delícia! Quem compra, nunca mais deixa de comprar. Alguns 
se deslocam de muito longe para virem aqui, somente para saboreá-la!
Foi falando e me entregando um pacote que, pela espessura e peso,devia ter umas quatro cocadas dentro. Daí, pendurou-se na janela do meu carro, com a mulher ao lado, e ficaram, os dois, esperando ansiosos. Entendi que queriam que eu provasse, de imediato, da tal cocada de coco. Sem querer decepcioná-los, mais que depressa abri o pacote e tasquei uma mordida naquilo que parecia um bloco, bem branquinho, de uma só cocada.
Nossa Senhora! Choveu açúcar para todo lado, inclusive na minha cara, cabelos e roupas! Do coco não vi nem sinal! Devia estar ainda por ralar, ou no coqueiral. Contudo, colocando os dedos na boca, brancos de açúcar, mandei um beijo para eles e exclamei:
- Que manjá!
Conclusão; fora a gorda gorjeta que lhes deixei, ainda tive que gastar uma nota preta no lava-jato para aspirar os milhares de grãos que faziam do interior do carro uma tentação irresistível para qualquer formiguinha que se prezasse. Tive pena delas perderem toda aquela abundância! Dava dó!
Quanto aos meus novos amigos, prometi um dia voltar. E voltarei na certa, esperando comer uma cocada de coco que tenha coco. Se não, há tanto lava-jato por aí...
- Né não?
 

 
Recife-PE
Em doce manhã de sexta
28.03.2014

 
Publicada também no Recanto das Letras
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quarta-feira, 26 de março de 2014

VELOCIDADE DO TEMPO




VELOCIDADE DO TEMPO
Ysolda Cabral



Entre os estados de expectativa e espera,
a alegria da chegada...
Entre o sonho e a realidade,
a certeza de estarmos na mesma estrada.

À beira dela tantos ninhos passarinhos!
Ah, filhos do Tempo que o Vento não leva!
Como eternizar uma partícula de segundo
para fazê-lo eterno?

Como perpetuar uma carícia,
um olhar, um beijo apaixonado,
uma declaração de amor,
um abraço apertado,
quando entardece a vida?

Entre os estados de amor e devaneio,
a tristeza da partida,
ainda dia de luz e de magia...
Ah, tão cedo era ainda!

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Recife-PE
Em novo dia que amanhece
2a. feira 24.03.2014 


Recanto das Letras em 24/03/2014
Código do texto: T4741487 
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domingo, 16 de março de 2014

O TEMPO E SUAS GARRAS



O TEMPO E SUAS GARRAS


Ysolda Cabral



E o senhor Tempo começa a mostrar as garras
somente pra vê se consegue me impor medo.
- Não consegue!
Sei que sempre quis me assustar...
- Tolo intento!

Eu o encarei, encaro e vou continuar encarando
de cara limpa, sem apelações e sem fotoshops
pois é a minha alma que conta, mesmo que,
por vezes, ela seja um tantinho tonta...

De cabeça erguida, ainda me sentindo uma menina
sonhadora incorrigível, romântica e acreditando
que todo mundo é gente, que a vida vale à pena,
apesar dos altos e baixos, feliz estou quase sempre. 

É assim que vou seguindo ombro a ombro
com esse impiedoso deus e gostando de mim
cada vez mais, mesmo que pouca gente goste.

Registrar sua passagem, sabendo o que me aguarda
na ‘’linha do horizonte da gente, ’’ acho divertido!
Só não quero ficar indiferente ao que ainda me reste
ou a tudo àquilo que me faça contente. 

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Praia de Candeias - PE
No '' Andar do Tempo"
16/03/2014

quarta-feira, 12 de março de 2014

MÃE E FILHOTE PASSARINHO




MÃE E FILHOTE PASSARINHO
Ysolda Cabral



- Mamãe um dia vou voar?
- Claro que sim, filhotinho!
Vai voar e voar alto! Bem alto!
 Mas, você mal acabou de nascer...
 Por que a pressa?

- Não estou com pressa!
 Só estou querendo saber quando isso vai acontecer!
- Vai acontecer assim que suas asinhas ficarem maiores.
- Quando, quando, quando?                                 
- Ah, num abrir e fechar de olhos!
 Você vai ver!

- E eu vou ficar bem grande?
- Bem... Muito, muito grande, não!
Só maior mais um pouquinho.
É que Papai do Céu fez a gente
para ser pequenininho mesmo.

- E por que, mamãezinha?
- Porque nosso tamanho está na beleza,
na delicadeza... Somos grandes na simpleza!
Você sabia que nosso canto é o mais lindo que existe,
e que nossa missão é anunciar o amanhecer
e o entardecer de todos os dias?
Viu só que responsabilidade?

- É verdade! Mas, ô mamãe,
e quando o dia nasce chovendo, com Vento forte...
O que fazemos?
- Não fazemos nada! Quando isso acontece,
a Brisa, a mamãe do Vento, enquanto a gente dorme,
Já nos leva para onde o Sol é nascente.

- Agora chega de conversa!
Já está ficando tarde e todos já se recolheram.
É  hora de dormir!  Boa noite, filhotinho!
- Boa noite, mamãe! A sua bênção...
- Piu, piu!
-Pit....

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Pousada Passarinho
Praia de Candeias - PE
Em 12.03.2014


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Imagem Ilustração em Arte MDF de Ivan Ray
Editora Livro Rápido 


Recanto das Letras 
 em 12/03/2014
Código do texto: T4725606 

sexta-feira, 7 de março de 2014

A MULHER NA EMPRESA BORBOREMA



A MULHER NA EMPRESA BORBOREMA...
Ysolda Cabral


Quinta-feira, 14h15m. Sol a pino. Lá vem o PE-15!

É nesse que eu vou! Resolvi fazendo o sinal para o ônibus que parou bem próximo à calçada. Entrei! Ao dar boa tarde ao motorista notei, agradavelmente surpresa, se tratar de uma mulher. Já tinha viajado de metrô operado por uma maquinista e achei o máximo! Agora, ônibus guiado por uma mulher, aqui no Recife, nunquinha!

Morena clara, boa aparência, de cabelos pretos encaracolados e muito atenciosa; a motorista fechou a porta e seguimos viagem. Na cara de pau me sentei no primeiro assento, bem atrás dela. Eu queria ver, de perto, se ela, de fato, sabia guiar um monobloco daqueles. O coletivo estava cheio, mas não lotado. Estava do jeitinho que os motoristas incompetentes e mau caráter, gostam, pra derrubar, com seus freios, quem viaja em pé. - São uns animais!

[Acho interessante que, se a gente andar, em nosso carro, com todo mundo sentado, porém sem cinto de segurança, somos multados, mas nos coletivos tudo pode! (?) Outro dia vi uma cadeirante perguntar ao motorista do ônibus pelo cinto de segurança a eles destinado. Ele nem respondeu! Entretanto, essa é outra história.] 

Logo à frente, na parada, duas senhoras deram com a mão. Fiquei atenta e ao mesmo tempo aflita. Eu iria ter que sair do lugar de uma delas, felizmente somente uma entrou e sentando junto de mim, com a mesma expressão de surpresa que eu havia tido antes, observou: “Que bom saber que nós mulheres não estamos assim tão em baixa, não é mesmo?” Caímos na risada e começamos a conversar amenidades, seguras de que estávamos sendo conduzidas por uma profissional competente, habilidosa, humana e muitíssimo bem educada. Inclusive, notamos que todos, também, estavam atentos, surpresos e agradecidos. Não vimos ninguém descer do ônibus sem agradecer e elogiar a referida profissional que, infelizmente, esqueci de perguntar o nome.

Parabéns à Empresa Borborema pela iniciativa. Que mais profissionais mulheres sejam contratadas para esta finalidade. - Registre-se!

Só com uma coisa fiquei cismada: Ninguém questionou o meu direito de sentar num lugar destinado ao pessoal com mais idade...

Epa, epa, epa, epa... Saí pra lá pensamento esquisito! Eu, hein!
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Publicada no Recanto das Letras
Em 07/03/2014
Código do texto: T4719105 
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quarta-feira, 5 de março de 2014

QUARTA-FEIRA DE CINZAS - 2014



QUARTA-FEIRA DE CINZAS – 2014
Ysolda Cabral



Janelas abertas para uma Quarta-feira de Cinza cinzenta. O silêncio só não é completo por conta do coral de passarinhos da redondeza. Até o Mar está silencioso! Todos, aparentemente, dormem e eu aqui a refletir a razão de sentir tanta tristeza. Parece até que brinquei o carnaval! Creio que seja por conta das notícias de violência que sempre chegam neste dia com mais intensidade.

Mas, enfim, a brincadeira acabou. Fantasias, ousadas ou não, foram usadas a bel prazer e agora jazem esquecidas num canto qualquer. Os restos mortais, enfeitados de lantejoulas e paetês - antes confetes e serpentinas - no velório de cada lixeira, já estão à espera do gari pontual, no Pôr do Sol desta quarta-feira.

Muita gente nos hospitais, outras velando seus mortos e as mais carnavalescas ainda resistem à idéia de que a festa acabou.

Mais uma vez não brinquei e cheguei à conclusão que nunca brincarei. Descobri, com verdadeiro horror, que tenho medo do carnaval.

E é sempre bom lembrar que: “A Quarta-feira de Cinzas representa o primeiro dia da Quaresma no calendário gregoriano, podendo também ser designada por Dia das Cinzas e é uma data com especial significado para a comunidade cristã. A data é um símbolo do dever da conversão e da mudança de vida, para recordar a passageira fragilidade da vida humana, sujeita à morte. Coincide com o dia seguinte à terça-feira de Carnaval e é o primeiro dos 40 dias (Quaresma) entre essa terça-feira e a sexta-feira (Santa) anterior ao domingo de Páscoa.

A origem deste nome é puramente religiosa. Neste dia, é celebrada a tradicional missa das cinzas. As cinzas utilizadas neste ritual provêm da queima dos ramos abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior. A estas cinzas mistura-se água benta. De acordo com a tradição, o celebrante desta cerimônia utiliza essas cinzas úmidas para sinalizar uma cruz na fronte de cada fiel, proferindo a frase “Lembra-te que és pó e que ao pó voltarás” ou a frase “Convertei-vos e crede no Evangelho”.

Na Quarta-feira de Cinzas (e na Sexta-feira Santa) a Igreja Católica aconselha os fiéis a fazerem jejum e a não comerem carne. Esta tradição já existe há muitos anos e tem como propósito fazer com que os fiéis tomem parte do sacrifício de Jesus. Assim como Jesus se sacrificou na cruz, aquele que crê também pode fazer um sacrifício, abstendo-se de uma coisa que gosta, neste caso, a carne.”

Dados coletados do site: 

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Praia de Candeias-PEEm reflexão
05.03.2014

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Recanto das Letras
Em 05/03/2014
Código do texto: T4715811 
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segunda-feira, 3 de março de 2014

DANÇA SOLIDÃO


DANÇA SOLIDÃO
Ysolda Cabral 


O ritmo é contagiante,
sensual, envolvente...
Saio a rodopiar pelo apartamento,
tal qual bailarina contente
que, apaixonada dança,
dança e dança...

Feliz comigo mesma,
na solidão que ninguém deseja,
no ritmo suave e emocionante,
solto o corpo e a mente,
num crepúsculo de som e beleza,
de um carnaval pra mim indiferente.

Dançando retoco o batom,
descalça deslizo pela sala...
Sou consciência e vida
a me deliciar com o frescor do chão.
Estou plena de emoção.
Não estou mais ilusão. 


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Praia de Candeias- PE
2a. feira de carnaval
03.03.2014

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Publicada no Recanto das Letras 
Em 03/03/2014
Código do texto: T4713950 
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sábado, 1 de março de 2014

SÁBADO DE ZÉ PEREIRA - 2014



SÁBADO DE ZÉ PEREIRA 
Ysolda Cabral


Sábado de Zé Pereira...
Ah, quanta asneira!
Na vida a gente faz tanta besteira!
É tudo brincadeira. Que leseira!

O Galo da Madrugada...
Tem Papai Noel, Raposas e as Uvas
Bloco pro rei Reginaldo Rossi! Gostei!

Antônio Nóbrega, músico, cantor, poeta,
mamulengo, dançarino, coreografo criativo, erudito...
Bastaria a rabeca e estava feito o agrado, a festa!              
Pessoalmente eu o acho  agoniado, cansativo...     
      
Já o encantador Ariano Suassuna...
Ah, ele é o máximo, é divino!
Dispensa comentários.
É da gente sem ser da gente
Bastava ele, "oxente!''

Nas ladeiras de Olinda...
Os bonecos miúdos,
quase sem música,
sobem e descem ladeiras...
Energética juventude folia!
Quem diria?!  Ah, canseira!

Por aqui Dalva de Oliveira
Que coisa!

Chama a Polícia,
Corpo de Bombeiro
Vigilância Sanitária...
Alguém me acuda!!!!!
S O C O R R O senão fico surda



Reginaldo Rossi -  Um fazedor de amigos. Eduardo Campos.  


Antônio Nóbrega - Agoniado e cansativo. Ysolda Cabral 





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Ladeira de Olinda... Que linda!   
 

Publicada no Recanto das Letras  em 01/03/2014
Código do texto: T4711436
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