quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

MUXOXOS MEUS ( CRÔNICA )




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MUXOXOS MEUS
Ysolda Cabral



Talvez pela proximidade do Carnaval, o moço da padaria tenha me dado um bom dia tão animado. Respondi no mesmo tom, porém pensando com meus botões que o dia nem parecia tão bom assim.

Amanheceu meio nublado e eu ainda um pouco resfriada, o corpo cansado, a mente um tanto turva, piorada pela noite insone e pelo fato de não ter condições de faltar ao trabalho posto que, sou uma aposentada que precisa trabalhar e receia a reforma da Previdência, ao mesmo tempo em que, se anima e se orgulha dessa possibilidade. - É que a reforma vai tirar o Brasil do atoleiro. - Viva!

Mas, deixando os devaneios de lado e voltando à crônica... 

Um ''bom dia'' animado assim, para quem? Só se for para os mesmos e me resiginei a longa espera tendo em vista que, quando cheguei, o funcionário já estava atendendo uma entojada, com sotaque de lugar não identificado, que queria, por que queria coisas que a padaria não tinha. Tipo: pão feito de não sei o quê, de não sei onde; queijo dos Alpes Suíços, presunto de Parma - um dos presuntos mais famosos da Itália, e, a cada negativa do atendente, ela balançava a cabeça indiginada, entortando a boca. - Isso na minha terra se chama muxoxo. 

Como não sou intima da paciência e queria apenas meio quilo de queijo do coalho, feito em qualquer lugar do alto sertão, ou não, bem como, uns quatro pães; interrompi a "peleja" pedindo alto e em bom som: – Ô, esse menino, por favor! Quatro pães francês de Candeias mesmo! E, no lugar do queijo, pedi mortadela, só para provocar a entojada que me olhava com desdém. O funcionário não se fez de rogado e mais que depressa me atendeu, aliviado de se livrar dela. - Eu acho!

Dirigi-me ao caixa e arrisquei uma olhada de soslaio na dita cuja. Ela, vermelha de raiva, ajeitando a saia curta e justíssima, estava indo embora, encarando o desafio de se equilibrar nos altos e finos saltos, dando muxoxo até para a calçada de piso irregular.

Caímos todos na risada. E, não é que o dia me pareceu bem-bom!

Quanto a mortadela? - Comi e com muito gosto. Fazia anos que eu não provava tal delícia. E foi assim que, de repente, não mais que de repente, me ocorreu a seguinte possibilidade: será que o homem que quer, por que quer uma mulher, de conduta duvidosa, como ministra do trabalho, e tapar os roubos dos seus pares com a reforma da Previdência, já comeu mortadela algum dia? 


Muxoxos meus...


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Praia de Candeias-PE
31.01.2018
Apenas Ysolda
Uma pessoa que chora e ri de alegria,
tristeza, ou saudade sem pudor.


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sábado, 27 de janeiro de 2018

VELHA E CANSADA, JAMAIS! (CRÕNICA)



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VELHA E CANSADA, JAMAIS!
Ysolda Cabral



Quem quiser diga ser preguiça. Eu digo que é cansaço o fato de num dia de sábado eu não me animar para fazer nada, absolutamente nada. Antes, cedinho da manhã, eu corria para praia, caminhava, nadava e ao voltar para casa fazia o almoço enquanto faxinava, colocava a roupa na máquina e depois no varal... - Pense numa dona de casa biônica e eficiente!

Como eu dava conta de tudo e ainda de marido, de filha e a noite estava pronta e arrumada, de unhas feitas, - por mim, diga-se de passagem -, para ir ao teatro, ao cinema, ou a outro lugar qualquer?.. E, o mais impressionante é que ainda encontrava tempo para escrever alguma crônica, alguma poesia, ou pegava o meu velho violão e muitas vezes compunha uma canção. - Como eu conseguia tudo isso e em um só dia, levando em consideração que durante a semana também trabalhava fora e às oito horas?! - Hoje só trabalho seis.

Evidentemente que o marido ajudava em alguma tarefa, mas depois do divórcio passei a dar conta de tudo e até com mais disposição e alegria.

Em alguns períodos, até longos, tivemos uma ou outra funcionária, de carteira assinada quando ninguém era obrigado a fazer isso, mas não gostava muito por achar que tiravam um pouco da nossa privacidade. No fundo eu sempre gostei de dar conta de tudo sozinha mesmo.

Hoje não dou conta de quase nada, mas também não quero ajuda. - Ninguém toma conta de uma casa como eu tomava e de vez em quando ainda tomo, em raros momentos de disposição.

Tem gente que não tem cansaço quase nenhum! Fico admirada, mas nem coragem de invejá-las, uma inveja boa e produtiva, eu tenho!

- Ah, acho que fiquei foi muito preguiçosa mesmo. Minha irmã Iris tem razão.

- Velha e cansada, JAMAIS!

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Praia de Candeias-PE
Apenas Ysolda
Uma pessoa que chora e ri de alegria,
tristeza, ou saudade sem pudor.



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Comentário de Iris deixado no Face, digno de destaque:

''Mas quando chega aquela vontade de faxinar, mudar tudo do lugar, limpar varrer e cozinhar ninguém aguenta teu tranco. Só nos resta dizer : Nossa Senhora lá vem ela !!!!!!!!!kkkkkkkk''

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

MAIS UM ENCRENQUEIRO NO PEDAÇO ( CRÔNICA)




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MAIS UM ENCRENQUEIRO NO PEDAÇO
Ysolda Cabral 



Acho que estou ficando velha, louca e muito encrenqueira, ou não. Mas, o fato é que estou perdendo a paciência com muita facilidade. A bem da verdade, nunca fui muito chegada a essa qualidade. Mas, vamos e convenhamos! Hoje em dia a gente é obrigado a ver e escutar cada uma! Ler, já não digo, pois lê quem quer. - Eu não leio porcaria!

Sou do tempo que existiam boas maneiras e a educação doméstica funcionava que era uma beleza! Por exemplo: nunca vi meu pai sentar à mesa sem camisa, ou receber alguém em nossa casa assim. Hoje é muito comum você se deparar, nas redes sociais, principalmente, com fotos de homens de meia idade de peito nu - e nem cuidados e/ou ''sarados'' são.E, mesmo que fossem! Eu acho muito constrangedor. - Que falta de bom gosto, de compostura! Alguns até se deixam fotografar na companhia das esposas maquiadas e muito bem-vestidas. - Verdadeiro disparate! Entretanto, como cada um é cada um, e eu não tendo nada com isso; sigo em frente perfil afora.

O fato é que, de uns tempos para cá, eu ando é mais seletiva nas minhas amizades e um pouco mais observadora. Se não tiver educação, respeito e boas maneiras não serve para ser meu amigo, ou amiga. É por isso que cada dia me isolo mais. Ando muito decepcionada com as pessoas. Até com o meu amigo Sibite! - Pois não é que o flagrei encrencando com um falcão só por que o coitado pousou no parapeito do prédio vizinho! … Foi assim: eu estava colocando a roupa no varal – odeio fazer isso – quando, pelo janelão da área de serviço do meu apartamento, vi o falcão no alto do prédio vizinho pousado, descansando sem incomodar ninguém. Estava lá tranquilo, apreciando o Mar e as redondezas, quando Sibite partiu para o ataque. - Coisa mais inexplicável!

Fiquei triste, muito triste! Jamais pensei que Sibite pudesse ser tão encrenqueiro e tão agressivo. - Ora, se nem tamanho tem! Perdi a paciência e dei-lhe um grito. Ele sibilou bem junto a mim, e, se eu não fosse tão rápida, creio que teria me levado algum pedaço.

- Que tempos são esses que até os passarinhos estão perdendo o bom senso, a candura; ou seria a compostura?!

- Eu heim, que coisa! 

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Praia de Candeias-PE
Apenas Ysolda
Uma pessoa que chora e ri de alegria,
tristeza, ou saudade sem pudor.


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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

PELO QUE SORRIA


Eu, aos 20 anos - Ano de 1974


PELO QUE SORRIA 
Ysolda Cabral 


Neste instante me sinto só. 
E, o simples fato de admitir, 
na garganta dá apertado nó.
Agora não consigo nem sorrir!

Deixo as lágrimas caírem... Que dó!
Dó de dor de mim. Estou a ruir...
Como é ruim! Logo estarei pó...
O que fazer para deixar de sentir

tanta tristeza e tanta solidão? 
Ah, direi que amanhã é outro dia,
e que esta agonia sairá do coração.

Assim receberei com alegria, 
tudo que me vier. E, em oração;
vou agradecer pelo que sorria.

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Praia de Candeias-PE
Apenas Ysolda
Uma pessoa que chora e ri
de alegria, tristeza, ou saudade sem pudor. 


Para escutar a canção de fundo, clique no link abaixo: 

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domingo, 21 de janeiro de 2018

SONHOS E INTENÇÕES


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SONHOS E INTENÇÕES
Ysolda Cabral


O longo dia em fase terminal,
rega as flores com sereno...
Sinto no peito um aperto tal,
como presságio de aceno!

Entre o lá e o cá, há um canal,
num invisível e íngreme terreno.
É preciso percorrer até o final,
para encontrar o Amor pleno.

Caminho de flores e espinhos,
suavidade, beleza e arranhões.
Nada levamos do nosso ninho!

Mas, no trem de muitos vagões,
ainda somos coração, pão e vinho,
repletos de sonhos e intenções.

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Praia de Candeias-PE
Apenas Ysolda
Uma pessoa que chora e ri de alegria,
Tristeza, ou saudade sem pudor.

 
Para escutar a canção de fundo, acesse:

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O CONTO DO ARNALDO - CONTO DO COTIDIANO



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O CONTO DO ARNALDO
Ysolda Cabral 



Ano novo em curso e já bem acelerado, perspectivas limitadas às coisas impossíveis e estapafúrdias. Valores atrapalhados, deturbados e esquisitos. - E é assim que tudo vai indo, nada vindo!...

Entretanto, os planos do Arnaldo mudaram num passe de mágica, e, pelo visto, DELE, as perspectivas são fantásticas! Nada que um bom golpe do baú não resolva. Então, decidiu, investir nele e nos últimos três meses começou a malhar pesado, tão pesado que quase teve um piripaque.

Foi ao médico e ele disse que o seu caso era grave e foi bem claro quando falou: '' - Ô Mané, digo Arnaldo, manera aí cara! Diminui essas bombas e vai com calma!''. - Claro que ele maneirou! - Comprou um relógio que mostra a hora, a sua pressão arterial, os batimentos cardíacos – tudo pelo Mercado Livre -, e continuou na busca do corpo perfeito com o intuito de ganhar aquela menina dos seus sonhos; ''uma riqueza de belezura!''

Mas, contudo, todavia, com o aumento de tudo e pela hora da morte e num país desgovernado e louco, melhor esquecer a bela menina e pensar em outro investimento, quando, pela obra do destino, soube que o chefe era milionário - dono de armazéns, casas, sítios, fazendas de gado e pai de uma única filha. E, mesmo sabendo da sua pouca idade, não viu grandes problemas nisso. - Sabia esperar!

Pensando em desacelerar na malhação, afinal teria bastante tempo até que a sua escolhida pudesse se casar, sofreu um duro golpe: descobriu que a garota era muito esperta, muito segura e jamais abriria mão da sua herança para ninguém. - Que desalmada! Pensou Arnaldo.

Mas, sempre cheio de ideias para saídas estratégicas, foi fácil encontrar a melhor solução para o seu caso: resolveu pedir o chefe em casamento. Entretanto, seus planos foram por água abaixo, não pelo fato dele já ser casado – Arnaldo se garante e o divórcio viria de imediato -, mas pelo fato de ter flagrado o chefe, considerando a hipótese de fazer um empréstimo para acalmar o ''Leão’'' que adora morder, PARA MATAR, aposentado que trabalha.

E foi assim que o Arnaldo caiu no seu próprio conto do vigário, e, agora, sem pretendentes, cogita uma nova saída que, só Deus sabe qual será. 


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Praia de Candeias-PE
11.01.2018
Apenas Ysolda
Uma pessoa que chora e ri de alegria,
tristeza, ou saudade sem pudor.

* Qualquer semelhança é mera coincidência.
Ysolda Cabral

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