segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

NUANCES DO ENVELHECIMENTO



NUANCES DO ENVELHECIMENTO

Ysolda Cabral



E eis que as nuvens escuras e pesadas se dissipam e o dia azul resplandece sobre um Mar de ondas plácidas. Tudo excessivamente claro me leva a querer sentir o cheiro da terra molhada, e torcer para que chova apenas um pouquinho. - Como a chuva faz falta! Cansei de tanto Sol e de tanto calor. Cansei de sentir frio na barriga, que é frio de medo da realidade chegada sem nenhuma poesia e abruptamente. - Precisava me livrar dele! Quero frio ameno, frio de cidade de interior, que é frio de ar puro, e leve que nos leva ao aconchego de casa, e a alegria de estarmos junto dos que nos querem bem de verdade. Cansei de hipocrisia, de competição desleal, do faz de conta de todo dia e dos chacais que nos espreitam em cada esquina, desgraçados que somos, para trucidar o pouco que resta de nossas vidinhas mais ou menos. E a minha ''Oração do Entardecer'' se faz o contrário de tudo àquilo que idealizei. Nuances do meu próprio envelhecimento. 

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E por falar em envelhecer trago, de presente ,para os meus leitores queridos, um belo soneto do meu avô, o qual ele compôs quando tinha a idade que hoje tenho.


O U T O N O
Firmino Filho

Como acontece às estações do ano
o ser humano segue a mesma sorte;
tem as nuanças que vão notando,
de vez em quando, para um novo norte.

Mas uma grande diferença existe:
é a que consiste em fase definida;
pois quem passou cantando a primavera,
não mais espera repetir na vida.

E quando chega a idade da velhice
a própria vida já não tem ledice,
é a tristeza a nota persistente;

Quando o verão da vida vai-se embora
o velho outono surge sem demora,
matando em cheio as ilusões da gente.

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Praia de Candeias-PE
Sem acessibilidade
Em 23.02.2015

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