quinta-feira, 16 de julho de 2015

O SENHOR NÚMERO UM




O SENHOR NÚMERO UM

Ysolda Cabral



Para encerrar as minhas inesquecíveis e mui maviosas férias, resolvi ir ‘’passear’’ no Terceiro Juizado Civil, situado em um lindo e ajardinado imóvel, tipo casa, da Rua Arão Lins de Andrade, 182, bairro de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes.

A bem da verdade, o “passeio” começou ontem. Não foi frutífero por conta da greve dos motoristas e cobradores de ônibus, que impossibilitou o funcionamento normal daquele juizado, e o único funcionário que conseguiu chegar, disse estar limitado ao atendimento de oito pessoas, apenas. Como eu era a de número nove, - nunca gostei de número ímpar -resolvi voltar outra hora.

Hoje, me avexei, pra valer, e lá cheguei por volta das 6:30 da manhã. Contudo, já ali se encontravam 12 pessoas. Peguei a ficha de número 13. Que coisa! Convinha ficar esperta... Às sete, a porta, como num passe de mágica, se abriu. Entramos todos e nos acomodamos em cadeiras confortáveis. Entre nós, um senhor demonstrava bastante ansiedade. Alto, bem vestido, cabeça erguida e orgulhosa de deter a ficha número um. 

À nossa frente, no imponente balcão situado no centro da sala, apareceu-nos um funcionário simpático, a nos dar bom dia e, para logo em seguida, comunicar que apesar da greve ter terminado, o “sistema” estava fora do ar, e, consequentemente, nenhuma “queixa” poderia ser registrada, a não ser que voltássemos depois.

O Senhor Número Um, apelou para a bondade do servidor, para que anotasse a sua queixa num papel qualquer, e que desse prosseguimento ao feito que ele iria expor em seguida! - Atitude que aguçou a curiosidade e solidariedade de todos, que do canto não se moveram, esperando saber do que se tratava. – Ali, como em uma clínica de Cintilografia Coronária, todo mundo é igual, diferenciando, tão somente, os seus interesses.

O funcionário disse não ser possível, pois tudo tinha que ser registrado no “sistema”, mas que ele dissesse do que se tratava, para uma orientação, talvez!...

O Senhor Número Um tirou do bolso da calça um volante de loteria e disse ter sido ganhador de um prêmio, mas que a casa lotérica havia se recusado a pagar. - Eita, agora era que ninguém mais saia dali, nem que uma vaca tossisse!

Prendemos a respiração, para que o atendente não nos tomasse todo o oxigênio, ao se encher do ar que todos respiravam, e perguntar: ‘’ Qual o valor do prêmio?’’ E o digníssimo senhor respondeu: “ oito reais!”

Por mais que eu queira descrever a reação do pessoal naquele exato momento, não encontro jeito! Dois ou três se levantaram e foram embora, aborrecidos pela perda de tempo. Os mais solidários permaneceram. Uns se divertindo, outros quase chorando e com vontade de lhes pagar o valor usurpado. – Mas a questão não era essa! Ponderei.

No mais absoluto silêncio prendemos, novamente, a respiração. Desta feita para sobrar mais oxigênio para o nobre atendente que, não se fazendo de rogado, estufou o peito, respirou fundo e com ares de justiceiro vingador, perguntou: ‘’ O senhor tem provas de que a casa lotérica não pagou o seu prêmio? " 

E, o Senhor Número Um, vencido, respondeu: "Tenho não, senhor! "

Saí de lá direto para a minha padaria preferida, sonhando sonhos de goiabada cascão!


Praia de Candeias-PE
Reivindicando justas justiças
Em 16.07.2015


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