segunda-feira, 5 de setembro de 2016

DIGITAL - SEM RECONHECIMENTO

DIGITAL - SEM RECONHECIMENTO 
Ysolda Cabral 



Para dar por concluído o meu check-up de saúde anual, que me manteve ocupada, estressada e preocupada nos últimos três meses, precisava ir ao oculista. Marquei para mim e para minha filha e fomos juntas à clínica/hospital oftalmológica. Como o atendimento é por ordem de chegada, sem conseguir vaga para estacionar, pedi à minha filha que fosse na frente, para anunciar nossa chegada, enquanto eu dava um jeito de estacionar pelas imediações. Consegui uma vaga um pouco distante da clínica e precisei andar um bom pedaço de caminho de paralelepípedos irregulares, com sapatos de salto alto nos pés desde as seis horas da manhã.

Cansada e esbaforida, sonhando me sentar e matar a sede, cheguei para a consulta. Dirigi-me à recepção, entreguei minha identidade e o cartão do convênio à simpática recepcionista achando estranho não encontrar minha filha ali. A recepcionista então me disse que ela se encontrava no primeiro andar, a espera de fazer exames preliminares, à consulta, e que eu me dirigisse para lá, também, para a mesma finalidade. O elevador demorou, então, reuni as últimas forças e fui pelas escadas. Tão logo realizamos os exames, fomos mandadas de volta ao térreo, onde deveríamos aguardar as consultas.

- Nossa Senhora, até que enfim eu iria poder sentar, tomar um copo d'agua, descansar um pouco... - Ledo engano! Mal sentamos a recepcionista nos chamou, para colocar a digital no equipamento de não sei que nome, para liberação das nossas consultas e dos exames, bem como, assinarmos as respectivas requisições ocasião em que, seriam devolvidos os nossos documentos em poder da Recepção desde que ali chegamos.

Yauanna foi primeiro e logo em seguida me chamaram. Entretanto, quando fui fazer a minha identificação, através da impressão digital, o equipamento deu um ''piti'' e não reconheceu de jeito algum. 

- Coloque o dedo novamente,minha senhora! Pediu-me a recepcionista atenciosa, e eu colocava e... NADA!
- A senhora já teve este tipo de problema com a sua digital? 
- Não, pelo menos até ontem! Mas, como tudo na vida muda num piscar... Respondi-lhe, pensando como seria bom me livrar dos malditos sapatos.
- Passe um pouco de álcool gel no seu indicador, limpe bem e depois limpe o equipamento para ver se funciona, enquanto eu ligo para o plano de saúde, para pegar a autorização, caso sua digital não seja mesmo reconhecida. 
- OK! Respondi-lhe de pronto.
Lavei as mãos com o álcool, as enxuguei com o papel toalha e limpei o equipamento, com esmero, e nada dela conseguir uma linha para falar com o Plano de saúde.
- Limpou bem?
- Limpei sim. 
- Vamos ver?
- Vamos! Respondi-lhe esperançosa, colocando o dedo e nada do equipamento reconhecer a minha digital. A questão era pessoal! Cisma mesmo! Fazer o quê? - Pensei. 
- Passe o dedo nos cabelos, às vezes dá certo! Pediu-me ela. Achei esquisito, mas passei o dedo e... NADA! Já estava com o dedo vermelho de tanto limpar.
- Bem, vamos ao primeiro andar para ver se o equipamento de lá reconhece a sua digital! 
- Tudo bem. Vamos lá! Concordei muito pacientemente.
Dirigimo-nos ao elevador, mas como estava preso no quarto andar, lá fomos nós pelas escadas, eu, mais uma vez.
- Ai meus pés! Ai minhas pernas! Preciso me sentar! Pensei, me controlando para não gritar.

Chegamos à Recepção do primeiro andar, e, depois de tudo explicado, ajustado para minha digital ser coletada ali, coloquei o dedo e... NADA! 
- Limpa aí! Disse alguém.
E começou tudo outra vez: o gel, o papel toalha, os banhos de limpeza e até o dedo no cabelo e... NADA.
- Bem, vamos voltar lá para o térreo! 
- Vamos! 
Eu já me sentia anestesiada pelo cansaço e me deixava levar para lá e para cá sem nenhuma objeção. 

No térreo, outra vez, minha filha correu ao nosso encontro, preocupada com o estado deplorável em que eu me encontrava; perguntou se finalmente a digital havia sido reconhecida e eu lhe respondi-lhe com a cabeça que não. - E eu podia falar! 

Pelo visto a recepcionista, também, já estava no seu limite e resolveu pedir a uma colega para tentar fazer a autorização da minha consulta e dos meus exames, os quais eu já havia realizado, diga-se de passagem.

- A senhora tem certeza de que nunca teve problema com a sua digital? Perguntou a colega recepcionista da recepcionista que antes me atendia e quem respondeu foi a minha filha, pois eu não tinha mais condições. - Eu precisava de uma cadeira será que ninguém percebia?!

Então, a recepcionista colega, pegou meus documentos da mão da que desistia de mim e se dispôs a tentar fazer o equipamento reconhecer minha digital, a qualquer custo, quando, pasma, percebeu que a documentação que tinha em mãos, não era a minha e sim a de minha filha.

Não sei se tive vontade de rir ou de chorar. Eu só sei que dei graças a Deus por poder finalmente me sentar.

Mal sentei, chegou a nossa vez e tive que me levantar para a consulta.
O doutor, nosso amigo e um dos proprietários da clínica/hospital, achou estranho eu me jogar na primeira cadeira do seu consultório sem, sequer, lhe cumprimentar. Contudo, nada lhe disse.

- Ah, se ele soubesse!... 
- Não sei a razão de coisas assim só acontecerem comigo...



Praia de Candeias-PE
Conjecturando abobrinhas de ontem
03.09.2016
Apenas Ysolda - IV