domingo, 26 de fevereiro de 2017

DISFARÇADA DE SARGAÇO





DISFARÇADA DE SARGAÇO 
Ysolda Cabral



Cansada da correria diária, não via hora de chegar o carnaval para descansar um pouco. Com a filha viajando, as contas pagas, supermercado feito, casa limpa e organizada; decidi reabastecer as energias. E, só havia um jeito para isso; ir à praia... Tomar banho de Sol e de Mar, era tudo o que eu precisava, e mais queria.

Optei pela Praia de Boa Viagem. Lá residem meu pai e meus irmãos, para qualquer eventualidade de não querer voltar para minha casa vazia de minha filha... 

Devo observar que, desde que vim morar em Candeias não ia aquela praia. Até pensei não ser uma boa opção por conta do carnaval. Contudo, a escolha não poderia ter sido melhor.

Encontrei uma Boa Viagem tranquila, limpa, poucos banhistas, maré baixa e um Céu tão belo quanto o Mar. Senti-me relaxada, energizada, renovada, perdoada de todos os pecados, e bonita...

Até que paralisei ao som de uma batucada repetida e sem graça que, para mim, soava apavorante, e estava há poucos metros de nós, - graças a Deus, Ângela, minha cunhada, estava comigo. A batucada vinha de um bloco de La Ursas, a agitarem as tiras de suas vestimentas, e a pedirem dinheiro aos banhistas, praia afora.

- Senti um frio na barriga e sob um sol de mais de 33 graus!...

Sempre tive muito medo de La Ursas. - Que brincadeira de carnaval mais sem graça! Lembro que ainda menina, em casa de minha tia Olga, lá em minha Caruaru querida, quando elas apareciam, eu corria para me esconder, tremendo de medo.

E, por incrível que possa parecer, com todo o meu tamanho caprichado, vi que não perdi o medo delas. Pelo contrário! Aumentou. Até porque antes aparecia uma de cada vez. Agora elas aparecem em bando!...

Meio apavorada e considerando minha cunhada frágil demais para me proteger, corri para o Mar e me disfarcei de sargaço, colocando um pouco deles na minha cabeça. Assim permaneci até que elas sumiram da minha visão e dos meus ouvidos.

- La Ursas deveriam ser banidas do carnaval!

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De volta à Praia de Candeias
Noite de domingo de carnaval
Tomara que não tenha pesadelo
26.02.2017
Apenas Ysolda
Uma pessoa que chora e ri de alegria,
tristeza, ou saudade sem pudor.



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